Se você é dono de oficina mecânica, revendedor de autopeças ou trabalha em concessionárias e revendas de veículos, é provável que já tenha sentido na pele a complexidade do regime de Substituição Tributária (ST).
A partir de 1º de novembro de 2024, o Rio Grande do Sul deixará de aplicar a ST sobre as operações com autopeças. Essa mudança traz alívio e também desafios para quem vive o dia a dia desse mercado.
Mas calma, vamos explicar tudo de forma clara!
O que é Substituição Tributária (ST)?
Para entender por que essa mudança é importante, vale explicar como funciona a Substituição Tributária.
A ST é um sistema em que o ICMS é cobrado antecipadamente, logo no início da cadeia de comercialização, geralmente pelo fabricante ou importador.
Assim, o imposto que deveria ser recolhido em cada etapa da venda é pago de uma vez só, por antecipação.
Isso significa que, no caso de uma autopeça, o ICMS já foi pago quando ela sai da fábrica, mesmo antes de ser revendida na loja ou colocada em um carro na oficina.
Por que a ST traz dificuldades para quem trabalha com autopeças?
MVA (Margem de Valor Agregado) Desatualizada:
A ST usa uma estimativa de preço final, chamada de MVA, para calcular o ICMS. Se o preço real do produto for menor que o estimado, o contribuinte acaba pagando mais imposto do que deveria.
Impacto no Fluxo de Caixa: Quando o ICMS é pago antecipadamente, o primeiro elo da cadeia (como o fabricante) repassa o custo para toda a cadeia de distribuição. Isso pode prejudicar o fluxo de caixa dos revendedores e lojistas, já que o imposto foi pago antes mesmo de o produto ser vendido.
Dificuldade com Restituições:
Quando há devoluções ou queda de preços, a restituição do ICMS pago a maior é burocrática e demorada. Isso gera frustração e pode trazer prejuízos financeiros.
Alta Complexidade Fiscal:
Mesmo empresas pequenas precisam cumprir uma série de obrigações acessórias, como informar corretamente o estoque e fazer cálculos detalhados para ajustar os valores do imposto, o que demanda tempo e recursos.
Por que o RS decidiu excluir as autopeças da ST?
A exclusão das autopeças da ST faz parte de um movimento mais amplo do governo do Rio Grande do Sul, que visa simplificar a tributação e promover um ambiente de negócios mais saudável.
Segundo o governo, a ST deixava muitos empresários do setor em desvantagem, especialmente quando comparados a grandes empresas ou concorrentes que conseguiam lidar melhor com essa complexidade.
Principais Objetivos da Mudança:
Simplificar a gestão fiscal: Cada empresa pagará o ICMS com base nas suas próprias operações, e não por uma previsão de valor agregado.
Promover a competitividade: Com a mudança, lojas menores e oficinas terão menos barreiras fiscais e poderão competir de forma mais justa.
Aumentar o controle sobre a informalidade: O fisco gaúcho passará a monitorar diretamente as operações de varejo, o que pode reduzir a concorrência desleal de empresas informais.
O que muda a partir de 1º de novembro de 2024?
Se você trabalha no setor de autopeças ou veículos, é importante se preparar para as mudanças. Abaixo, detalhamos as principais mudanças:
1. Fim da ST e Emissão de Notas Fiscais
- As autopeças deixam de ser tributadas via ST. Isso significa que o ICMS será pago por cada empresa da cadeia com base nas operações efetivas.
- Alteração de CFOP:
- Antes: CFOP 5.405 (Venda com ST).
- Agora: CFOP 5.102 (Venda tributada no regime normal).
2. Alteração de Código de Situação Tributária (CST/CSOSN)
- Empresas do Simples Nacional:
- Antes: CSOSN 500 (ST).
- Agora: CSOSN 101/102 (tributada no Simples).
- Empresas do Regime Geral:
- Antes: CST 10 ou 60 (ICMS recolhido por ST).
- Agora: CST 00 (tributada integralmente).
3. Levantamento de Estoque em 31/10/2024
- As empresas devem fazer um inventário detalhado das autopeças que ainda estavam sob o regime de ST até essa data.
- O inventário deve incluir:
- Notas fiscais de aquisição dos produtos.
- Nome do fornecedor.
- Valor do ICMS passível de restituição.
Como funciona a restituição do ICMS pago antecipadamente?
As empresas que tiverem estoque com ICMS-ST pago poderão solicitar a restituição do imposto. Abaixo, o passo a passo do processo:
- Envio do Inventário para a Receita Estadual:
- O inventário com todas as informações exigidas deve ser enviado para a Receita Estadual.
- A Receita analisará os dados antes de aprovar a restituição.
- Regime Geral (Não Optantes do Simples Nacional):
- As informações do inventário serão reportadas na GIA (Guia de Informação e Apuração de ICMS).
- A restituição será feita em até 12 parcelas, lançadas diretamente na EFD (Escrituração Fiscal Digital).
- Empresas do Simples Nacional:
- Deverão apresentar um pedido formal de restituição do ICMS à Receita Estadual.
Como essa mudança impacta o seu negócio?
Benefícios
- Melhor controle do fluxo de caixa: Sem a antecipação do ICMS, o imposto será pago apenas após a venda.
- Redução da burocracia: Elimina-se a necessidade de cálculos complexos baseados em MVA.
- Concorrência mais justa: Com menos barreiras fiscais, pequenas empresas podem competir de forma mais equilibrada com empresas maiores.
- Controle direto das operações: A Receita Estadual passa a monitorar as operações no varejo em vez de concentrar a fiscalização apenas no início da cadeia.
Desafios
- Adaptação à nova sistemática de emissão de notas fiscais: As empresas precisarão ajustar seus sistemas para a nova CFOP e CST/CSOSN.
- Organização do inventário: O levantamento de estoque precisa ser feito corretamente para evitar erros na solicitação de restituição.
- Aumento da fiscalização: O governo estará mais atento às operações no varejo, o que exige transparência e controle nos processos internos.
Dicas Práticas para se Preparar
Converse com seu contador: Certifique-se de que ele está a par das mudanças e das novas exigências.
Adapte seus sistemas: Atualize os sistemas de gestão para as novas CFOPs e CST/CSOSN.
Organize o inventário: Apure o estoque em 31/10/2024 e garanta que todas as informações estejam corretas.
Fique atento aos comunicados da Receita Estadual: Acompanhe as instruções sobre o processo de restituição.
Invista em controle fiscal: Tenha sistemas eficientes para monitorar vendas, estoque e emissão de notas fiscais.
Conclusão: Uma Nova Era para o Setor de Autopeças
O fim da Substituição Tributária representa uma mudança positiva para o setor, eliminando burocracias e custos desnecessários. Com mais flexibilidade e menos obstáculos fiscais, oficinas, lojas de autopeças e concessionárias terão mais espaço para crescer e se tornar mais competitivas.
Embora a adaptação inicial exija cuidado, principalmente na organização do inventário e adequação às novas regras fiscais, a medida promete benefícios de longo prazo, como redução de custos e melhora na saúde financeira das empresas.